Ser leal com o amor é não abandonar a tentativa. É esgotar as chances. É
não permitir que um “se” seja maior do que um sim. É não experimentar a
culpa por não ter feito.
Você cumpriu tudo o que um amor pede – está quite com a vida. Não haverá aquele remorso pela covardia, omissão, indiferença.
O amor pede agora que se retire. Quando cedemos o corpo e a alma, ficamos com o corpo. Não se preocupe, alma nasce de novo.
Ela escolheu não ficar contigo porque você criou a escolha. Antes ela
não tinha. Você havia terminado. Agora ela entende que você a queria.
Não deixou nenhuma vontade em desuso, nenhuma lembrança em aberto.
Não se arrependa nunca disso. Gentileza é garantir a escolha, mesmo que a resposta não seja a que desejamos.
Levará sua coragem para dentro de suas próximas paixões. Coragem é
temperamento, não é interesse. Você não a conquistou, mas se conquistou
de volta.
Ela não é menos porque deixou de amá-lo. Não tem
culpa pela sinceridade. Tão corajosa quanto você por dizer o que pensa e
não se submeter ao que os outros gostariam, inclusive nós. Merece o
nosso respeito do início ao fim. Não está em julgamento.
Um
homem só prova que é grande quando não diminui a mulher para se
valorizar. Já deixei de ser homem várias vezes com ex-namoradas. Por
favor, não me repita.
Assim como não irei admitir que sua busca
seja confundida com perseguição. Ou fruto de um ciúme doentio. Foi uma
declaração de ternura. Pena que não estamos mais acostumados com o
romantismo e confundimos fé com obsessão.
Lembra quando chegou perto de mim e me pediu "Não sei o que fazer... Me ensina?"?
Pois é, eu não ensinei nada. Aprendemos os dois que o amor não tem
orgulho, oferece apenas sua fragilidade. Aprendemos os dois que todo
apaixonado é bipolar, procura e hesita quase ao mesmo tempo, arrisca e
desiste quase ao mesmo tempo, muda de opinião para reafirmar logo em
seguida, sofre escandalosamente para não sofrer seus segredos.
Talvez tenha errado em insistir, mas são erros puros, autênticos. Erros
educados. Erros que não devem fazer com que se feche daqui por diante.
Amor oferecido não se devolve. Não pede recompensa. Não exige final
feliz.
O amor a ela fará com que ame melhor seus amigos e sua família. Vai migrar delicadamente para quem precisa e sente falta.
Ela não pode mais o esquecer. Pode não amá-lo, mas esquecer não. Há memória depois de uma vida juntos. Honremos.
Fabrício Carpinejar
Crônica do novo livro "Me Ajude a Chorar" (Bertrand Brasil, 155 páginas)
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